As relações com os países de língua alemã antecedem não somente a existência do Brasil independente como também da Alemanha, Áustria e Suíça como Estados-Nações modernos. Embora existissem contatos esparsos desde os primórdios da colonização europeia, foi no século XIX que os dois universos culturais se aproximaram de vez. Com a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte, a ordem política internacional começou a ser redesenhada no Congresso de Viena, realizado entre 1814 e 1815. Ali foram plantadas as sementes que levaram o Império Austríaco e o Império Português – este último então sediado no Rio de Janeiro – a firmarem uma aliança estratégica, simbolizada pelo casamento, em 1817, do príncipe D. Pedro de Alcântara com a arquiduquesa Leopoldina, filha do imperador austríaco Francisco I.
A comitiva que acompanhou a futura imperatriz em sua vinda para o Brasil incluiu os naturalistas Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius, incumbidos pela Academia de Ciências da Baviera de realizarem longa viagem de pesquisa pelo país. Avolumaram-se, a partir de então, as trocas efetivas. Ainda sob o reinado de D. João VI, foi autorizada a colonização de Nova Friburgo por famílias suíças e, em seguida, alemãs. Em 1824, formou-se a primeira colônia no Rio Grande do Sul. A partir de 1837, deu-se início ao assentamento de imigrantes alemães na região onde viria a ser fundada, em 1843, a cidade de Petrópolis. Ao longo do século seguinte, estima-se que tenham chegado ao Brasil cerca de 250 mil falantes da língua alemã e suas variantes. Dentre os diversos aportes germânicos à formação do Brasil estão, naturalmente, as contribuições culturais. Não menos no âmbito da cultura visual. Passaram pelo país, ao longo do século XIX, importantes artistas de língua alemã – pintores paisagistas, como Thomas Ender, Johann Moritz Rugendas e Friedrich Hagedorn; retratistas célebres, como Ferdinand Pettrich e Ferdinand Krumholz; litógrafos editores, como Henrique Fleiuss e Georges Leuzinger; fotógrafos, como Albert Frisch, Alberto Henschel e Revert Henry Klumb. Alguns permaneceram no país por longos anos, como Augusto Müller, Ernst Papf e Georg Grimm, ajudando a constituir o meio artístico local. Outros promoveram intenso intercâmbio com seus países de origem, levando registros do Brasil mundo afora.
As trocas artísticas entre a cultura brasileira e os países de língua alemã foram de imensa importância na constituição das respectivas nações e nacionalidades, ainda mais por ocorrerem em época formativa para ambos os lados. Ao plasmarem a representação da flora, fauna e gente brasileira, artistas de origem germânica contribuíram para criar um imaginário poderoso da natureza tropical. Possibilitaram também que os habitantes do Brasil se vissem espelhados no repertório imagético do mundo moderno, então em expansão vertiginosa. Os ecos desse diálogo atravessam o tempo e chegam até nós, filtrados por gerações de artistas e amadores, acervos e instituições. O olhar dos colecionadores Maria Cecilia e Paulo Geyer, também descendentes de alemães, soube enxergar no exotismo de visões passadas a semente do que nos é hoje familiar.
Maurício Vicente Ferreira Júnior Rafael Cardoso CuradoresA Exposição
Rio de Janeiro à vista
Imaginar o Brasil
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Retratos da Vida da Corte
Durante a maior parte do século XIX, o Brasil viveu sob o regime monárquico – primeiramente como parte integrante do Império português e, após a Independência, como monarquia parlamentar, até 1889…
Olhar a Gente Brasileira
Nem somente de comendadores e dignitários era formada a população do Brasil imperial. O lado menos vistoso da moeda era a massa de gente escravizada, onipresente nas paisagens, nas ruas, nos ambientes retratados nos quadros que compõem esta sala…
Olhar do Colecionador
Exposição O Olhar Germânico na Gênese do Brasil
Curadoria Maurício Vicente Ferreira Júnior e Rafael Cardoso